11/01/2008 16h30 - Atualizado em 31/08/2018 09h22

Passeata emociona na chegada da Maria Fumaça

O município de Conceição da Barra vislumbra o desenvolvimento de um
projeto de turismo ecológico com a chegada neste sábado, da locomotiva
Maria Fumaça, totalmente reformada. Até a década de 70, quando parou
de funcionar com o fim do ciclo da madeira, a locomotiva possibilitava
o transporte de madeira do local denominado Paiol, na entorno do Parque
Estadual de Itaunas até a foz do Rio Cricaré, onde as peças eram
embarcadas em navios e transportadas para outros centros do país.

Agora, com a máquina voltando a entrar em circulação, o projeto tem um
alvo ainda maior: o incentivo ao turísmo ecológico, mas para isso, de
acordo com o secretário de Desenvolvimento Econômico, Albino Dias
Machado, vai ser preciso o município buscar parecerias ao longo de
2008 para que no verão de 2009 sejam implantados passeios da sede até
o entorno do Parque Estadual de Itaúnas. "A linha será implantada no
entorno do Parque Estadual de Itaunas para passeio turístico
ecológico", adianta.

A reforma da locomotiva Maria Fumaça teve um custo de R$ 150 mil,
dentro de um estudo que incluiu a formatação do projeto turístico. "A
finalidade da primeira etapa é mostrar aos futuros parceiros o que é o
projeto e sua viabilidade", lembrou Albino adiantando que a partir de
agora começa a segunda etapa que é buscar parcerias com a iniciativa
privada, governos estadual e federal para implantação da linha férrea
e estações de embarque e desembarque, resgatando o trecho histórico de
cinco quilômetros da atual serraria na sede do município até o local
denominado Paiol nas margens do rio Itaunas, na área Parque Estadual
de Itaunas.

Para fazer a reforma e o estudo de viabilidade foi feita uma parceria
do município com a Associação Brasileira de Preservação Ferroviária
(ABPF), de Campinas, São Paulo. A reforma foi feita na cidade de
Votarantim onde está localizada uma empresa associada à ABPF para onde
as peças que sobraram da antiga máquina foram mandadas pela prefeitura
de Conceição da Barra no dia 8 de junho de 2007.

"Enquanto não for construída a linha férrea a máquina vai ficar em
exposição no setor de transportes da Secretaria de Infra-estrutura,
local em que será implantado um Centro Cultural e a estação de partida
da locomotiva, na chegada da cidade, no bairro Guaxindiba", informou
Albino.



Histórico da ferrovia em Conceição da Barra

A ferrovia que funcionou em Conceição da Barra - foi paralisada na
década de 70 com o fim do ciclo da madeira -, teve como origem a
necessidade de extração da madeira numa época em que eram inexistente
ou precárias as rodovias na região.
As toras cortdas eram lançadas no Rio Itaúnas, sendo amarradas em
balsas que desciam a correnteza até o local denominado Paiol, na sede,
onde o rio forma um cotovelo.
Nesse ponto um guindastre montado em base de pedras içava as toras e
as carregava em pranchas ferroviárias, formando-se uma composição que,
tracionada por uma pequena locomotiva a vapor, muito provavelmente em
bitoa de 60 centímetros e fabricação francesa Decauville ou
equivalente, levava o carregamento a cerca de seis quilômetros de
distância até a Serraria Pai João.
Na serraria as toras eram cortadas e novamente embarcadas nas pranchas
ferroviárias para serem transportadas até o cais localizado na foz do
rio Cricaré, próximo ao centro de Conceição da Barra, dali enviadas
por navios de cabotagem para os principais centros consumidores e de
exportação na região Sudeste.
Com o desmatamento e a necessidade de unir o Brasil de Norte a Sul por
via rodoviária, começou a ser aberta a BR-101. A chegada da rodovia ao
Norte do Espírito Santo determinou a paralisação da ferrovia, que se
tornou desnecessária. Na mesma época foram desativadas também as
instalações dos portos e logo a suir a serraria.
Ao final do ciclo da madeira no Norte capixaba, a ferrovia foi
totalmente erradicada, sendo retiradas todas as linhas, instalações
físicas e o material rodante e de tração (vagões pranchas e
locomotivas), restando como herança apenas o antigo leito e a antiga
serraria, depois transformada em oficina pela Prefeitura Municipal.
Com o objetivo de reativar a ferrovia com fins de utilização
turística, histórica e cultural, foi adquirida a Usina Pureza, em São
Fidelis, Rio de Janeiro, na década de 1980 uma locomotiva a vapor, que
desde entou ficou guardada na oficina da Prefeitura na antiga
serraria, esperando a oportunidade para ser restaurada e colocada em
plena operação.
Trata-se de uma locomotiva de bitola 80 centímetros, de fabricação
alemã Orenstein & Koppel, com a configuração de rodas 0-60T+T,
equipada com tender extra, que era utilizada anteriormente para o
transporte de cana na usina

Quem é a ABPF

A Associação Brasileira de Preservação Feroviária (ABPF) foi fundada
em 1977 e opera ferrovias a vapor regularmente desde 1984. A primeira
delas foi a Viação Férrea Campinhas-Jaguaraúna na cidade de Campinas,
São Paulo, onde se situa a sede nacional da entidade. Operou, ainda, o
Trem do Imigrante, em São Paulo, Capital, o Trem das Águas, entre São
Lourenço e Soledade de Minas, em Minas Gerais, o Trem da Serra da
Mantigueira, entre Passa Quatro e Coronel Fulgência, Minas Gerais, o
Trem da Serra do Mar, entre Rio Negrinho e Rio Natal, Santa Catarina,
o Trem das Termas, entre Piratuba, Santa Catarina e Marcelino Ramos,
Rio Grande do Sul, o Trem da História, em Tubarão, Santa Catarina, o
Trem do Contestado, na ferrovia do Contestado, em Santa Catarina e o
Trem Princesa Isabel, entre Morretes e Antonina, no Paraná. Com
excessão do último, todos os demais trens são com tração a vapor.