13/08/2014 15h16 - Atualizado em 31/08/2018 10h00

Prefeitura de Conceição da Barra adquire imóvel do antigo Trapiche


Depois de meses de debate sobre a importância da valorização da cultura barrense, o prefeito Jorge Donati e a Família Castro, numa convergência de ideias pelo fortalecimento da história do município, formalizaram a aquisição do imóvel do antigo Trapiche pela Prefeitura. O prédio, que também abrigou o Hotel Marina, transformou-se no principal cartão postal de Conceição da Barra nas últimas décadas e em breve sediará a Casa de Cultura do município, um espaço que será mantido pela Administração Municipal, com o objetivo de preservar e incentivar a atividade cultural e artística do povo barrense. A apresentação oficial desse novo patrimônio material do município acontecerá às 17 horas do próximo dia 22 de agosto, data em que se comemora o Dia Nacional do Folclore.

Nos próximos dias, o prefeito encaminhará uma indicação à Câmara de Vereadores, sugerindo que a Casa de Cultura de Conceição da Barra leve o nome de Marieta Castro, atual proprietária do Trapiche, que durante décadas, dedicou-se a preservar esse patrimônio histórico que divulga Conceição da Barra em todas as suas imagens.

SAIBA QUEM É MARIETA CASTRO
Marieta Castro Sampaio de Oliveira é filha de Maria Gazzinelli Castro e Carlos Alberto dos Reis Castro, ele um português que chegou a Conceição da Barra no início do século passado e que teve participação ativa no desenvolvimento da região Norte do Espírito Santo. Entre outros projetos realizados por ele estão a participação decisiva na questão dos limites entre o Espírito Santo e a Bahia, a pedido do então Governador do Estado, Nestor Gomes, e também a elaboração do plano rodoviário para toda a região Norte do Estado.

Marieta Castro participou ativamente das ações de preservação do Trapiche junto com o seu pai. Entendendo a importância desse monumento, mesmo após a morte do seu genitor, assegurou a manutenção do imóvel com grandes dificuldades, já que logo cedo ficou viúva e como filha única teve que arcar com os cuidados da numerosa família.

Vale destacar que por diversas vezes ela recusou ofertas de compra do Trapiche, por conta de serem propostas com fins meramente comerciais. Para Marieta Castro, o Trapiche - local onde viveu, que recebeu navios, hospedou inúmeros e ilustres visitantes, entre outras histórias - possui significado e importância cultural imensuráveis, abrigando histórias diversas sobre Conceição da Barra.

Para a família Castro, é importante que esse prédio histórico seja preservado como patrimônio cultural do município. Assim Conceição da Barra manterá sua história ao longo do tempo, com informações culturais que criam laços de pertencimento e identidade do barrense com sua cidade.

O antigo Trapiche é parte integrante do Patrimônio Arquitetônico do município e, com sua aquisição pelo poder público municipal, será possível realizar intervenções para a restauração de toda a estrutura do prédio. O cartão postal que tantas vezes foi admirado por moradores e turistas, por sua perfeita harmonia com o Cais da Barra e o Rio Cricaré, logo será aberto à visitação pública, apresentando também todo o encanto da história e da cultura barrenses.

A HISTÓRIA DO TRAPICHE
Situado à Rua Coronel Oliveira Filho, nº 01, no centro de Conceição da Barra, o Trapiche foi construído pelo português João Bastos de Almeida Pinto, no ano de 1786, final do século XVIII. Inicialmente funcionava como uma casa comercial, mas que serviu até para apresentação de peças teatrais, como o grande drama da época: “O Conde de Santiago”. O português era poeta, mas também foi o responsável pela chegada dos primeiros escravos na então Vila de Barra de São Mateus.

Com o falecimento de João Bastos, seu filho Elysio Bastos de Almeida Pinto, assumiu o estabelecimento e também o comércio de escravos. Elysio utilizou o Trapiche como armazém para desembarque de mercadorias vindas de todo o Brasil e de várias partes da Europa. Em 1910, ele deixou a Barra em busca de melhores estudos para sua filha e o imóvel ficou abandonado. Alguns anos depois, a Prefeitura assumiu a propriedade, em pagamento de impostos atrasados.

Em 1936 o Trapiche ia ser colocado a Leilão e uma das firmas interessadas pensava em adquiri-lo para demoli-lo e aproveitar as pedras, escassas na região, com as quais foram construídos o seu alicerce e paredes. Diante disso, Carlos Alberto dos Reis Castro propôs a sua compra o que foi efetuada junto à Prefeitura, a fim de evitar a demolição.

Naquela ocasião não existia o cais de proteção e o prédio servia de anteparo contra a força das marés, tanto é que várias casas construídas ao sul do trapiche, foram destruídas pelas marés.
Nesta mesma ocasião o Trapiche sofreu algumas modificações e passou a servir de moradia para a família Castro: o andar térreo servia como depósito de madeira (Ciclo da Peroba do Campo) que eram embarcadas em navios que atracavam a oeste, onde ficava o cais.

A partir de 1988, a Marieta Castro Sampaio de Oliveira, filha e herdeira do Carlos Alberto dos Reis Castro e atual proprietária, restaurou o prédio, adaptando-o para um Hotel, onde hoje funciona o Hotel Marina Porto da Barra.

O Trapiche, esse importante monumento histórico, foi testemunha ocular de todos os ciclos socioeconômicos do município de Conceição da Barra, desempenhando um papel fundamental, não só na sua história como também na proteção do município e desenvolvimento turístico e econômico.